A partir de 2017, verdade sem idade

Eu, aos 4 anos, com um vestido que meu pai me deu e eu amava!!!

Era uma vez uma menina que aos quatro aninhos ja sabia que queria ser uma transplantadora de coração. Na verdade, ela queria dar àquelas pessoas pessoas com corações debilitados, a oportunidade de viver  mais uma vida e se permitir todas as possibilidades.

Dos 46 para os 47 anos, o coração da própria (agora não mais uma menina) mulher parou. Ela gostou muito da experiência de morrer sem parar de viver, e, como aquelas pessoas de coração debilitado que a menina queria curar, ela aceitou essa nova chance. E sua missão, que nem ela sabia, seria começar curando seu próprio coração.

Aos 49/50 ela experimentou a delicia que é lançar um livro e falar sobre ele com tanto entusiasmo e verdade, em shows de televisão, na Bienal Literária, etc. Ser ouvida e ter sua voz considerada.  Ter retorno de platéias engajadas no assunto.  E se divertir com a sua audiência.

Falando em coração, me cobrem um post sobre “Coração de Estudante” e aquele sonho-real com Milton Nascimento.

O último slide do anexo abaixo marca o inicio de uma nova temporada de Sofia. Essa temporada começou 22/01/2020 quando embarquei pra cá:

The Invisible Ark; A Morte me Cai Bem (Death Suits Me), e Heart Talks (nome provisorio) serao minhas primeiras cirurgias em coracoes feridos ou debilitados.

transplantadoradecoração

 

Rio de Janeiro: Hoje é dia 5 de fevereiro de 2022 e estou passando a limpo uma anotação do dia 4 de agosto de 2019.

 

Dia 9 de abril de 2017 eu fiz 56 anos, ou seja, entrei no nono setênio, que é esse em que estou agora, e há pouco mais de dois anos. Decidi escrever minha autobiografia por setênios e, digamos, pra não deixar ninguém perdido, e caber no tempo razoável para vocês não levantarem entediados, resolvi começar a contar minha vida a partir do início desse meu atual setênio, e já estou sendo repetitiva…

Ai meu Deus! (divagando) Por favor, gente, aguenta um pouquinho mais, eu prometo que vou melhorar até o fim da minha temporada, aqui na Terra, ne?

(muda o tom para firme)

Anotem só uma coisinha no final de todas as nove temporadas aqui na Terra ou em outro lugar, no éter, em outra dimensão, todos nós somos anjos. Nós somos uma legião de anjos que se reconhecem quando se conectam pelo coração, pelo sentimento, como aquelas conexões da natureza vegetal com a natureza animal no filme de ficção Avatar. Não existe ficção. Tudo o que pode ser imaginado, pode existir, até porque existiu em primeiro lugar na imaginação de alguém. No caso do filme Avatar, ele foi desenhado, realizado e assistido por milhares de pessoas no mundo. Outro dia o Zé Mauro me disse que tem um parque temático “Avatar” e comentamos sobre a nossa conexão. Eu comento. Ele entende.

 

(fim da anotação)

 

A respeito da data 09/04/2017: Não tenho certeza, mas acho que a comemoração foi lá em casa, usando um vestido da Lenny que agora vou levar como saída de praia. Contratei um bartender e comprei um monte de bebida que nunca chegou a ser usada. Estava nos estertores daquele modelo.

 

Mas voltando ao dia de hoje, 05/02/2022, eu estou vivendo um dilema que espero que seja resolvido com paz de espírito, porque se não, não vale a pena. Tenho 13 dias até voltar para Londres e até agora a única solução que me foi oferecida foi entregar a Pipi para uma mulher desconhecida que “adora” maltês e que não quer nem que eu saiba sua identidade. Eu hein!! Vou entregar essa cachorrinha que eu me ocupei, ainda que de longe só emocionalmente, para uma emissária entregar a Cruz Vermelha, como a mãe em fuga de Kabul que entrega o filho bebê ao soldado? Não quero ser impolite, não, só que não”.

De: Neide Raphael Albuquerque

Enviado:sexta-feira, 21 de janeiro de 2022 18:58

Para: ticiana@ticianaazevedo.com

Assunto: dia 21jan2022

Rio de Janeiro, 21 de janeiro de 2022.

Aqui começo minha trilogia. Trilogia me lembra Tri bó bó. Fui com minha mãe ou minha avó?  Não me lembro. Tribobó tem ouro. Tribobó tem bó, bó, bóó, borogodó!

A Origem. Passei anos sem saber por onde começar, nem o formato exato, até que ontem, decidi que começaria agora.  NOW! Fosse esse agora mesmo ou ontem, quando tomei minha decisão.  Não importa. O importante é começar.

Estou escrevendo minha vida de trás para frente e de frente para trás.  O importante é que ela tenha principio, meio e fim, não importa a ordem. Quero pensá-la como um filme ou uma peça em três atos. Ou, voltando ao começo, à trilogia. Povavelmente terei que voltar várias vezes para esse começo.

Agora, eu me vejo na passagem do segundo para o terceiro ato, como a Jane Fonda descreve a própria vida.  Como sou viciada em bons streamings, prefiro pensar em temporadas, ao invés de atos, ou no  máximo numa trilogia

Boa parte desse conteúdo vai ser narrado por Sofia.  Sofia é minha musa, a atriz que eu ainda não tive a coragem de ser, a sabedoria a qual corro atrás todos os dias e cujo processo descrevo aqui. Irá esse trecho para o prefácio? Ainda não sei de nada. Isso vai ser decidido enquanto organizo o meu material.

A HISTÓRIA DA PRINCESA QUE SE SALVOU SOZINHA 

Como o próprio título deste volume deixa claro, essa é a história da princesa que se salvou sozinha e se transformou em rainha da sua própria vida.

A  MORTE ME CAI BEM

Por que a morte me caiu bem?

Dia 27 de fevereiro de 2008 eu morri. 

Vou contar essa experiência extraordinária pra vocês, mas nunca acho que está bom o suficiente para ser compartilhada. De mais a mais, se foi tão extraordinária e impactante, aonde essa experiência se reflete na minha vida?

De março ao final de junho, aconteceram tantas coisas que não tive o tempo necessário para digerir aquela experiência tão fascinante que mudaria a minha vida. O fato é que hoje, aos 60 anos beirando os 61, eu sou a escritora que sonho ser. Não me importo se ganho apenas R$100 ao longo de seis meses com a minha publicação. O fato é que sou uma artista (escritora e roteirista) e ainda que essa atividade não me renda o suficiente para me sustentar, essa é a minha nova profissão. Margueritte Duras , minha musa, era escritora e roteirista. Um dos filmes mais lindos que assisti várias vezes é  L’Amant – prefiro em francês. Essa foto que ilustra o post foi no delta do Mékong onde Margueritte Duras viveu na infância e onde se passa o filme no qual ela relata seu romance com um herdeiro asiático milionário cujo pai não toleraria o casamento com uma moça de outra raça-religião. Margueritte era branca e francesa.

Voltando ao dia da minha morte, depois veio mais uma outra noticia impactante e então o lançamento do meu livro no dia 24 de Abril/ou Maio de 2010.

 

February 27th is a date to be celebrated: the date of my rebirth. On 27 February 2008, I had a Near Death Experience (NDE https://www.nderf.org/). It was the most powerful experience in my whole life. Although I was technically dead, I include that experience in my life because it has completely changed my perspective about what life is. After that experience it was crystal clear that we are spirit having a human experience not the opposite. Definitely, we are not human bodies who have spirits. I felt I haven’t boundaries, I was just the part of a whole energy. When I came back to my everyday-life I had this tendency to forget, but the seed was planted. Now this is my North.

I was very intrigued by what’s happened and what that event meant to me.  Ever since I’ve been asking to my heart what “it” wants. Actually, I found a note that I’d written many years before my cardiac fibrillation, asking “What does your heart ask for?”. If that answer wasn’t extremely important for me, it wouldn’t be recurring. Someone told me that I had that experience because I’d chosen to. When I was told that, I didn’t understand.  Now I perfectly understand.

Having a NDE is a grace that few people are allowed, and I am very grateful. I am the kind of person that needs to understand. It wasn’t an intellectual experience at all. I just experienced what I really am. My job now is just do not forget about it while I’m here. It’s a daily job.  I understood that I need to leave my life with passion and a higher purpose. These human bodies and personalities we all have are like cars that someday will be recycled for new models. They are our vehicles.

I’ve been writing that I think it will be called “Death suits me”. Now I understand perfectly well the people that I admire, such as Deepak Chopra, Oprah Winfrey and Eckhart Tolle, when they say that we are spirits that have a body experiencing life as human beings. I don’t know how they know this so well. I needed to try myself to understand. What I felt that day 27 February 2008 was what a spirit feels without a body or personality.

It’s an experience very difficult to describe because it wasn’t felt through the five senses we are used to.  I can just be grateful for this opportunity.

This will be the first time I’ve written a post in English and even if I am aware of what I am saying it’s weird to talk about feelings in a foreign language. It’s as if you can communicate meaning without feeling. Can you understand what I mean?

I will try to keep it as simple as a piece of writing for school since my main objective at the present moment is learning English as well as I can. This is to achieve my second goal, which is to be a screenwriter/writer in English. I digress. I always digress …

Before yesterday I went to Regent’s Park for the first time in my life with my friend Luciana who told me there was an exhibition, at least that’s what I understood. Actually she was talking about the rose garden, a wonderful garden with all kinds of beautiful roses.

The roses have been named after inspiring women such as the beautiful actress Ingrid Bergman (red one, in the centre of the garden), Rachel (orange)  and Adrianna (yellow) – no idea who the last two can be –  or creative titles such as Keep Smiling and Inspiration. For me, this last one was the most beautiful, along with the main picture which illustrates the post in varied tones of off-white mixed together with a subtle pink tone. Unfortunately, I haven’t found its name.

Another great experience yesterday was to smell the aromas. The rose Inspiration, besides being incredibly beautiful, a really inspiration, had by far the strongest and most pleasant aroma.  Perfumers should just put it in a bottle. I wanted to stay there forever, but eventually I had to move on because Luciana wanted to go elsewhere.

Inspiration

Inspiration

I want to describe all the sensations and sense of gratitude I experienced but not before talking about that last rose that we saw and photographed:  “she” is white in her centre and bright pink at her borders. If I had seen her in a shop I would think that she was fake or painted. If she hadn’t been made by nature I would say she was tacky.

However, she is nature in all its brightness and that was my feeling.  This feeling has been lasting till now. I am amazed. I would like to bring that aroma with me, that light, those petals, not just in a photograph. I think this rose broke into my heart. Last morning, while I meditated in the pink ray, I felt this sensation of being bathed in a bright white light with pink borders, just like the rose I saw on Monday.

A Rainha do Fogo representa O Compartilhar no baralho Zen do Osho. Ela é rica, régia e segura de sua abundância. Tem tanta  luz e riqueza que distribui  sem se preocupar com o futuro.  Dessa maneira, todos estão convidados a participar de sua abundância e fertilidade.

Amor e compaixão transbordam pelo quarto chakra desenvolvido através da meditação. Como resultado,  o coração abundante precisa compartilhar tanta alegria e bem-aventurança. Ao compartilhar, sente-se cada vez mais pleno.

Tudo a sua volta parece estar se integrando. Desfrute isso, firme-se nisso. Permita que a abundância que está em você transborde.

No tarô Mitológico, a Rainha do Fogo (Paus) é representada por Penélope.  A esposa de Ulisses esperou por dez anos seu marido voltar da guerra de Tróia. Com o filho Telêmaco, governou a ilha de Ítaca.

Entretanto, nunca perdeu a fé na sua intuição e nem deixou de acreditar que seu marido estava vivo. Embora sofrendo pressão de príncipes que queriam casar-se com ela, contornou a situação.

Penélope não precisa do rótulo de “esposa” para se sentir autoconfiante. Tem uma grande força interior para reger seu próprio mundo. Dedica-se ao que realmente é caro ao seu coração.

Com essa energia maravilhosa, firme, confiante, generosa e abundante, comemoro meu aniversário este ano um dia mais cedo (8 de abril – London, 15:53) em razão do meu trânsito astral. A cada dia amo mais ser quem eu sou por mais trabalho que isso me dê.

Obrigada, Arminda, por não ter desistido. Realmente eu ainda tinha muito o que fazer aqui.

 

Hoje é aniversário da querida Juju e ontem foi da Carolina. Eu ontem sentia a intuição de que era aniversário de alguém querido, mas só conseguia me lembrar da Monique Boot, minha querida professora de Inglês e íntima conexão de alma que deixou esse plano material há alguns anos.

Juju é uma das arianas mais “terráqueas” que eu conheço: está sempre preocupada com o sustento físico no futuro. E eu fico angustiada com a pre-ocupação dela porque, daqui de “fora”, está claro que tanta preocupação não se justifica.  A palavra diz tudo pré + ocupação.

Carolina também já comentou sobre pré+ocupação (acho que vou escrever assim daqui por diante para não me esquecer que se pré+ocupar é se ocupar previamente, geralmente de maneira angustiante, com um problema futuro, ou seja, um problema imaginário, que pode nunca vir a acontecer. É uma tortura mental.

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dreamcatcher

Essa manhã recebi várias informações através de um sonho que agora me empenho para decifrar:

* Eu estava num lugar que poderia ser a entrada do prédio do Carlos e da Christina de Laet. Com eles, também estavam a Christiana e o seu marido, Gustavo. Na descida da escadaria para um local que poderia ser a representação da Avenida Rui Barbosa com o Aterro mais adiante, local inclusive que tem um quê de déja-vu, acredito que já ter aparecido num sonho anterior, minha mãe se junta a mim.

* minha primeira e mais racional interpretação foi de que transportei para o sonho uma ideia que me ocorreu de perguntar para a Christiana se o apartamento da filha que está morando em Londres está vazio, uma vez que estou passando um certo perrengue aqui com a mal humorada da Dragica e deduzi que a filha devia ter voltado para o Rio com o crescimento da pandemia aqui na Europa. Minha leitura ainda faz mais sentido porque certa vez aluguei o studio da Christina e do Carlos em Paris

*Ao sair/sairmos desse encontro (minha mãe se juntou a mim na escadaria) e procurarmos um táxi, minha mãe começa a desfalecer nos meus braços, uma frase que cunhei ao descrever como minha mãe começou a morrer nos meus braços, naquela tarde, na rua Visconde de Pirajá, na saída do consultório de um médico (que não se dignou a pegar o elevador para socorre-la)

*Ela desfalece num platô da escadaria, eu tento medir a pulsação no pescoço (como tinha assistido na noite anterior num filme de James Bond) e, sem muita certeza, acredito que ela esteja morta. Aqui tenho que abrir um parênteses: quando ela esteve internada no CTI, depois de alguns dias sem melhora, pedi ao médico que me desse um prognóstico sincero.Ele respondeu que, se ela melhorasse a ponto de receber alta, teria outras internações paliativas pois o estado geral era muito frágil.
A partir daquela informação, eu “decidi” que, naquele caso,  seria melhor que ela morresse porque assim terminaria aquele sofrimento para ela e para nós, os filhos. Alguns dias depois foi exatamente o que aconteceu.
Eu, de uma forma completamente irracional, me senti responsável pela morte da minha mãe. Senti, realmente, como se o meu pensamento tivesse o poder de interromper a vida dela e de alguma maneira esse sentimento ainda perdura. Então, quando os médicos chamaram a mim e ao meu irmão naquela sala para dar a notícia de sua morte, meu sentimento ainda hoje é de dizer: “Quem autorizou?!! Eu ainda estava pensando, não era para ela ter morrido, eu ainda não tinha tomado nenhuma decisão”.
Não falei nada disso porque minha mente é racional, mas meu sentimento, muito intenso, foi exatamente esse. Quando eles anunciaram o fato, foi como se eu ainda tivesse a opção de desfazer aquela atitude precipitada que no momento eu atribui a eles, os médicos. Me lembro que meu irmão ficou com cara de abestado e eu perguntei pra ele: “Você entendeu o que eles acabaram de dizer?”. Isso porque os médicos usam eufemismos, não dizem como Albert Camus, em “O Estrangeiro”: “Sua mãe morreu”.
Para mim, naquele momento, a morte da minha mãe era 100% reversível. É como se eu não tivesse ouvido aquela bobagem. Eles que voltassem lá no CTI rapidinho e revertessem o quadro trazendo-a de volta à vida.

Prosseguindo no sonho, agora ela será velada:

O sonho prossegue nesse local do velório. O fato é que deixei o corpo da minha mãe em cima de uma mesa própria para apoiar caixão, numa das salas de velório, sem a menor compostura. Intuitivamente, a morte dela não era definitiva. Não cobri o corpo, não fiz nada. Deixei lá, sozinho, provisoriamente.

Minha impressão, já acordada (posso estar errada), é de que outros enredos se misturaram nesse momento do sonho: uma cantora famosa e madura (não vou citar o nome), que já namorou e casou com rapazes bem mais novos, está nua e quer porque quer transar com um rapazinho lindíssimo. Ela o convence a pegar um veleiro parado numa espécie de marina contígua à entrada da capela do Cemitério São João Baptista, em Botafogo. Ela é super sarada, bronzeada, está com uma garrafa de champagne e avança sem meias palavras pra cima do rapaz que a evita a todo custo. Ela insiste, pergunta se não a deseja, mas ele explica que tem uma namorada a quem ama. Ela tem uma cabeleira leonina, longa e volumosa. Impossível não confundi-la com uma sereia e a ele com Odisseo, porém mais casto e ingênuo. Mas ela não desiste e continua a assedia-lo fisicamente. À certa altura aparece, como uma projeção, uma figura que poderia ser a Fernandinha Gentil, como a namorada do rapaz que se enredou no canto da experiente sereia. Como o namorado, a projeção é atlética, esportiva e dourada pelo Sol. A cantora-sereia também é bronzeada.

* outros trechos do sonho parecem entrecortar essa parte do solitário velório da minha mãe. Na vida “real”, eu também cheguei tarde ao velório dela e encontrei amigos como Ascânio, Armando Strozenberg e João a minha espera. De fato, não fui velar o corpo da minha mãe naquele momento, embora após a morte dela, ainda no CTI, eu tenha cortado suas unhas e hidratado a pele de seu corpo sem vida com óleo de amêndoas perfumado da L’Occitane que nunca mais tive coragem de comprar.

* uma situação no espaço sideral que não consigo me lembrar exatamente, leva a nave ou o equivalente a isso a se desintegrar obrigando o único sobrevivente ou ocupante, não está claro, a voltar à Terra. Ele vem caindo pelo espaço sem nenhum equipamento em direção à Terra. Eu, na posição de espectadora, também estou no espaço mas, como ele, em contato com a Terra. Ele está livre, sem ou com pouco equipamento, e vem de muito além da nossa Via Láctea. Vem de um espaço muito longínquo e profundo. Em determinado momento, seu para-quedas começa a se abrir. O astronauta devia ser uma espécie de repórter-astronauta porque o contato dele na Terra é uma espécie de editor. Deve ser um repórter-sideral.
Em outro ângulo desse enredo, ainda com o corpo da minha mãe em cima de uma mesa sem nenhuma flor ou providência arranjada, surge um editor-chefe (editor de outro editor), me cobrando a matéria do astronauta que desceu de para-quedas para a capa de um jornal de bairros. Eu argumento que minha mãe acabara de morrer e ainda não fora enterrada, mas ele retruca que não quer saber de desculpas. Vai lá reclamar com o editor dos bairros que ele deve ser mais incisivo comigo. Mas aí me lembro que um astronauta caindo de para-quedas não é para o jornal de bairros e ele aceita a argumentação. De repente, mudo de posição e passo a personagem sendo fotografada por Ascânio, que tem um assistente. Pergunto se ele passou de diretor para fotógrafo, mas ele se ofende com a observação. Nisso, vou para uma espécie de barzinho encontrar amigas para descontrair e encontro Saskya e Marina Vianna.
Volto para a capela, que se ampliou para um conjunto. Abre-se um grande salão com porta dupla por onde vão entrando vários caixões cobertos por lençóis. Num deles está Carlos Vereza que ao mesmo tempo está vivo e a quem pergunto o que está acontecendo. Quando ele vai começar a me explicar, volto ao lugar onde o corpo da minha mãe está deitado e noto que ele ainda tem vida. Acordo.

limpeza, transparência,

London, 27 de Janeiro de 2020: Cheguei em Londres há quarto dias e desde então tenho sonhado intensamente e me lembrado desses sonhos tão vívidos diariamente. Todos os sonhos têm sido uma cópia fiel do que venho sentindo. E são muitos sentimentos e pensamentos embaralhados nessa última semana. Nessa noite, porém, meu sonho foi diferente. Sonhei com minha prima e um dos seus filhos, num contexto em que Freud e seus seguidores não teriam a menor dificuldade de interpretar. Nem eu, talvez.

Ela tinha um escritório num ultramoderno prédio, ao lado de outros também em construção. Eram tão modernos, tão estranhos, que era difícil encontrar a saída. Os prédios estavam em final de construção, no alto de um morro barrento, terroso, como se antes houvesse uma floresta for a devastada para abrigar aquelas estranhas construções. Um motorista atrevido estava designado para me levar para a cidade lá embaixo, mas ele não cumpriu seu papel, se mantendo numa postura independente e abusada. Esse era o cenário.

Mas o importante, o bonito, foi a emoção que nós duas sentimos ao nos encontrarmos. Um sentimento transcendental, fraterno, puro, impossível de descrever em palavras. Aliás, foi exatamente o que aconteceu quando nos encontramos nesse sonho. Nós não nos dissemos absolutamente nada e tudo estava dito e claro através dos nossos corações. Era só amor fluindo entre nós duas, sem nenhuma dor, sem nenhuma cicatriz. Em algum momento, o filho dela apareceu e aquele sentimento foi compartilhado a três.

Meu desejo era que aquele sentimento não terminasse nunca, eu não queria acordar daquela experiência. Tive a clara sensação de que aquilo ali não tinha sido apenas um sonho, que tínhamos realmente nos encontrado numa outra dimensão. Proust escreveu que os sonhos deviam contar como vida vivida. Os sonhos agradáveis, claro. Eu acredito piamente nessas conexões invisíveis. Muitas pessoas acreditam e têm

diferentes interpretações para isso, interpretações de cunho místico, científico ou racional. Em Sense8, o seriado criado por Lilly e Lana Wachowski, as personagens se conectam em outra dimensão. Gosto dessa ideia. Minha sensação nesse sonho foi muito parecida.

Aqui, no mundo dito real, nossa relação está ferida, rasgada, machucada. No meu mundo real é só amor, como no sonho, ou nessa outra dimensão onde o ego e as coisas do mundo palpável não interferem porque simplesmente não existem.

Mais tarde, vi uma foto dela com três ou quatro anos. Me lembrei de uma foto minha com a mesma idade. Imaginei aquelas duas meninas alegres e imaculadas brincando, sem culpas ou julgamentos. Meu sentimento por você, prima, é só amor.

Não sei se queria que o tempo, essa ilusão que está impregnada na gente como se fosse verdade, voltasse atrás para modificar os fatos da vida palpável. Acredito que os fatos são energia materializada. E nas relações não existem energias unilaterais. O que se materializou estava invisível, não estava dito, mas estava lá o tempo todo. Por isso, no mundo palpável, é importante falar sobre os sentimentos com sinceridade.

O que eu quero dizer, do fundo do meu coração, são aos frases do Hoponopono: eu sinto muito, me perdoe, te amo, sou grata. E digo isso intensamente, de dentro pra fora. Desejo profundamente que os fatos dolorosos sejam degraus para o aprofundamento desse amor que um dia nos aproximou e nos uniu, sem feridas abertas. Porque em algum tempo não seremos mais esses seres humanos palpáveis como somos agora. Mas ainda nos restará o Amor.