Quem diria, tanta aversão à exposição e aqui estou eu, tão excitada, por falar em praça pública. Sempre tive dificuldade com o julgamento alheio. Durante um teste de vídeo para o Fantástico, quando eu tinha uns 30 anos, todo o lado esquerdo do meu rosto paralisou de tanta tensão. Se eu não estivesse tão preocupada com o julgamento alheio, provavelmente teria me saído muito bem. Hoje, vejo a diversidade crescendo no jornalismo televisivo e constato como muita coisa melhorou nos últimos anos.

Naquela ocasião, eu botava uma barra tão alta pra mim mesma, mas tão alta, que só a perfeição era aceitável. Eu não sei como teria sido minha vida se eu tivesse passado naquele teste, mas tenho tantos interesses que também gosto da versão que foi de fato vivida por mim e cujas experiências me transformaram (com a minha inteira participação e interpretação) no que sou agora.

Agora estou reescrevendo, de várias formas e por ângulos diversos, a minha história. Dessa maneira, acredito que ajudo a mim e a outras pessoas. Trata-se de um projeto experimental, uma espécie de alquimia da palavra, mas não só da palavra. Estou escrevendo, mas também estou imaginando outras formas de expressão. Afinal, somos seres com potencial infinito e não precisamos nos limitar.

Há alguns anos venho tentando ouvir meu coração, buscando meu real propósito, minha verdade. E, de repente, em 2019, tudo ficou claro. Abri uma frestinha no meu coração, e aproveitei para entrar e perceber como me sinto bem aqui dentro. Quando isso aconteceu, havia um homem muito presente na minha vida. Então, essa emoção maravilhosa que me fez chorar de felicidade, se misturou com o que eu sinto ou sentia por ele, e embolou tudo, como a gente se embola quando leva um caldo de uma onda e vem rolando com ela de volta à areia.

De repente, meu sentimento por ele se tornou arrebatador e eu acreditei que a recíproca era verdadeira. Aquele amor intenso e apaixonado brotou no meu coração depois de muitas décadas adormecido. Tive a sensação de estar entrando no meu coração. Aí eu relaxei e gozei de verdade, como há tempos não gozava.

Infelizmente, ainda não aprendi a andar por aí de coração aberto. Meu ego não me deixa. Então, apelei para Sofia, que volta depois de nove anos. Sofia é mais que um alter-ego, eu conto com ela para me salvar quando sinto que posso me perder nesse espaço de vulnerabilidade. Sofia é minha “fórmula de emergência” : Sofia-rescue.  

Sem defesas, quero curtir essa onda boa que a gente só encontra quando se permite ficar vulnerável. A música me leva para esse lugar. Então dei continuidade a história de Sofia de uma maneira bem peculiar, escolhendo uma trilha sonora que traduz o atual estado de espírito da minha personagem. Estou muito apaixonada por ter me reencontrado com a minha verdade ( que sempre foi e será uma só) para conseguir me separar da Sofia.

Mas ela é tão danadinha que não consigo manter minha rédea curta e, quando vejo, ela está fazendo e falando o que quer sem que eu possa controlá-la. Então, por favor, se Sofia falar verdades inconvenientes, não me responsabilizem. Ela é essa pessoa: intensa, sem censura, querendo cada vez mais se aprofundar na própria verdade. Tanto que Sofia abriu a guarda e, quando viu, estava apaixonada. Nesse estado de “demência”, oxitocinas completamente baratinadas, nessa entrega total absoluta.

Ah, não sei se vocês se lembram do livro que Sofia, eu e Consuelo Dieguez lançamos em 2010 #seuprincipepodeserumacinderela. Sofia, como uma das duas autoras, também teve um “piripaque”. E é essa outra história que vou contar.