Hoje tive um sonho bastante significativo que se tornou minhas Morning Pages de hoje. Era um caminho em três etapas distintas, na rua Jardim Botânico. O primeiro trecho começou com uma mochila super pesada e uma imensa dificuldade de dar cada passo à frente — uma verdadeira tortura. Isso me fez lembrar dos pesados sapatos de ferro da mãe e da filha, da história que minha avó contava, chamada Os Onze Irmãos Encantados. Mas, nesse caso, não era o tênis que era pesado. Era eu mesma que não tinha força.
Primeiro Ato:

A moça que começou a caminhar comigo —alguém que tenho a impressão de conhecer vagamente, mas não tenho certeza — seguiu em frente com facilidade  e desapareceu, enquanto eu ficava para trás, me arrastando passo a passo. Começamos a caminhar juntas, e supostamente iríamos andar lado a lado.

Não me lembro se ela carregava alguma mochila, mas também não era só o peso da minha que me impedia de seguir com fluidez. Era um peso interno que quase me impedia de andar. Me apoiava no muro — aquele muro do Jóquei Clube do Brasil, em frente ao Jardim Botânico. E o Sol estava a pino.

Segundo Ato:

Em seguida, apareceram duas outras moças bem amáveis, e houve ali uma conversa sobre nossos tênis. Eram da mesma cor, um cinza bem escuro, impermeáveis. Tinha também um detalhe verde-limão e me lembro até do detalhe do cadarço. A diferença estava no modelo: um tinha o cano mais longo. Uma delas comentou que usava aquele tênis para esquiar, e eu concordei, dizendo que também usava, porque eles eram muito mais confortáveis do que as botas de esqui. Na vida real, sou uma completa negação no esqui.

Acho que o esqui tem relação com um episódio da série Four Seasons que assisti ontem, em que eles vão esquiar, e três dos personagens nunca haviam esquiado, todos desajeitados. Acho que foi isso.

Mas houve ali uma espécie de companhia. Elas foram mais solícitas, obviamente, do que a outra, que seguiu em frente e me abandonou. Por um tempo, seguimos o caminho juntas. E então aquele trecho — que na realidade é uma rua reta — mudou completamente.

Transformou-se num caminho lindo. Poderia até dizer que era uma parte mais atrás da própria Jardim Botânico, mas não era. Tinha árvores lindas, flores maravilhosas, algumas curvas… Essas árvores faziam uma sombra super gostosa e refrescante, ao contrário da parte inicial, onde o sol escaldava.

Foi bem gostoso. Foi uma mudança mágica. E eu fiquei muito feliz. Tudo de repente ficou leve. Eu conseguia caminhar sozinha, feliz, embora houvesse a sensação de que as duas moças estivessem ali por perto, à certa distância, me olhando, me acompanhando… Eu não estava completamente sozinha. Uma sensação, se eu quiser levar para o lado espiritual, de proteção. Uma companhia. Alguém ali me dando apoio.

Terceiro Ato:

E então, finalmente, chegamos — novamente repito: no mundo real seria “para trás”, mas no sonho era “para frente”. Era como se fosse a rua Lopes Quintas. E havia um posto de gasolina. Só que, onde esse posto realmente existe (ou existia, não sei mais, já que estou aqui na Inglaterra faz cinco anos), no sonho ele estava do outro lado da rua. A rua já tinha um aclive mais forte, e de repente estávamos numa fila, com uns três carros na frente, esperando para abastecer.

Estávamos dentro — ou meio fora — de um veículo. Lembro-me de um Palio compridinho, prateado, embora não saiba ao certo se era esse mesmo.

Nesse posto de gasolina, havia também muita comida. Nós nos alimentávamos: comíamos sanduíche de queijo e algo que parecia um salsichão. Acho que isso também veio do episódio da série de ontem.

Mais abaixo, vi a Hilde, Hildegard  Angel, também num carro prateado. Talvez fosse esse mesmo Palio. Acenei para ela, e ela seguiu em frente.

Foi um sonho em que, a cada trecho do caminho, os sentimentos mudavam completamente, e decidi levar para as minhas morning pages. No início, foi muito difícil. Aquela sensação de “Meu Deus, por que estou assim? Por que a outra pessoa segue lá na frente enquanto eu fico para trás, com tanta dificuldade, tão sem energia?”. Não era só o peso nos pés — não eram sapatos de ferro — era um peso interior, falta de força para avançar no caminho.

Depois, com o surgimento das flores, das árvores, da sombra… tudo ficou leve. E ali cheguei a esse outro estágio.

Lembrança de ultima hora:

Havia também algo relacionado à TV Globo — agora me lembro. Acho que no sonho eu falava da minha dificuldade, do medo que eu sentia de fazer um teste de vídeo e ser rejeitada. Agora não sei mais se isso foi nesse sonho ou em outro…

Mas havia esse teste e o medo de me expor. Tudo ali no Jardim Botânico, na Lopes Quintas — a rua da TV Globo. Um medo antigo, o de fazer um teste e não ser aprovada.  Isso também tem uma certa coincidência com agora, esse momento em que estou gravando meu vídeo de vendas.

Tudo se mistura de forma interessante.

Comentários finais:

E, por causa disso, resolvi deixar registrado esse sonho de hoje.

É isso. Estou registrando aqui esse meu sonho.

Você já experimentou contar seu sonho nas suas Morning Pages?

PS: Resolvi publicar esse sonho porque ele foi para as minhas morning pages, minhas três páginas matinais — aquelas que escrevo à mão, no meu caderno, e alguns dos meus alunos dizem: “Ah, mas quando eu sento pra escrever, não vem nada…”

Vem sim!

Aqui no blog, claro, ajeitei a pontuação — só isso.
Mas no caderno, não tem regra.
Escrevo do jeito que falo, do jeito que sinto.

Faço o que eu digo.
Faça o que eu faço. 💪✍️

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Dreams are hours of a life lived in a different dimension than the world of the watch. In the world of dreams, we can fly high like birds, migrate to distant places in fractions of a second, return to childhood and recreate our world from our most intimate expectations. Marcel Proust and Federico Fellini worked brightly on dreams in different media.

The dream world is the only refuge when reality becomes unbearable. How many people in prisons or psychiatric institutions can only support their lives by closing their eyes to enter their private world? Why are they in these prisons, with or without bars? I don’t care. The act of dreaming is the protagonist of this story.

Julian is an extremely handsome man looking to be in his late twenties. We see him sleeping with an expression of contentment. A thin light beam in the darkness suggests that the day is about to dawn. We immerse ourselves in his dreams that mix various phases of his life like shuffled playing cards or pieces of a puzzle that tells the story of his life out of chronological order: children surrounded by their parent’s attention and affection on a beautiful beach; exploring the wonders of the ocean on diving; watching the sunset with his lovely wife in the Atacama desert; toasting with Orientals at Felix, the panoramic restaurant on top of the Peninsula Hotel in Hong Kong; dancing with the bride on their wedding day; as a child playing at school; carrying the newborn child; graduating at university. In the midst of these images, supernatural creatures like mermaids sometimes appear; other times he makes fantastic leaps as if he had the mobility of a giant kangaroo. Among his dreaming, pieces of soft music play and we see flashes of his expression of pleasure when dreaming.

We focus on his sleeping face. But this time the sun has already risen and hits Julian’s eyes, making a gesture as if to avoid opening them. Finally, he begins to open his eyes little by little. Julian follows the beam to the “window”. But when the intensity of the light softens, the grids are defined. Julian turns on his side and covers his head with the pillow. Sound goes up playing What a wonderful world.

Você não precisa deixar de fazer nada por causa de medo. Se deixar paralisar pelo medo é apenas uma escolha. Você pode fazer tudo o que quiser –  seja na vida que você acredita ser A real, seja na vida dos seus sonhos – terreno onde não há censura, culpa, julgamento, nada que você não queira levar pra lá.

Nesse momento, quando esse sentimento de preconceito de idade está apenas brotando. Brotando, não, se invertendo na minha mente, pois até outro dia era eu que tinha esse mesmo preconceito de idade com os “velhos”. Só que agora os velhos são velhos mesmo. Ou  os mesmos, só que agora são velhos!

Sim, isso é um #fluxodeconsciencia e quem já leu James Joyce sabe do que estou falando. Eu não li Ulysses porque não entendi “p… ” nenhuma, mas li algumas outras coisinhas de Joyce.  Se alguém aí leu e entendeu, favor explicar aqui nos comentários.

Quem é Sofia? Um arquétipo? Uma entidade? Uma força masculina e feminina? A tal “virilidade feminina” que ela representa tão bem! Sofia vem chegando com muito mais testosterona do que muito homem por aí.

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Essa manhã recebi várias informações através de um sonho que agora me empenho para decifrar:

* Eu estava num lugar que poderia ser a entrada do prédio do Carlos e da Christina de Laet. Com eles, também estavam a Christiana e o seu marido, Gustavo. Na descida da escadaria para um local que poderia ser a representação da Avenida Rui Barbosa com o Aterro mais adiante, local inclusive que tem um quê de déja-vu, acredito que já ter aparecido num sonho anterior, minha mãe se junta a mim.

* minha primeira e mais racional interpretação foi de que transportei para o sonho uma ideia que me ocorreu de perguntar para a Christiana se o apartamento da filha que está morando em Londres está vazio, uma vez que estou passando um certo perrengue aqui com a mal humorada da Dragica e deduzi que a filha devia ter voltado para o Rio com o crescimento da pandemia aqui na Europa. Minha leitura ainda faz mais sentido porque certa vez aluguei o studio da Christina e do Carlos em Paris

*Ao sair/sairmos desse encontro (minha mãe se juntou a mim na escadaria) e procurarmos um táxi, minha mãe começa a desfalecer nos meus braços, uma frase que cunhei ao descrever como minha mãe começou a morrer nos meus braços, naquela tarde, na rua Visconde de Pirajá, na saída do consultório de um médico (que não se dignou a pegar o elevador para socorre-la)

*Ela desfalece num platô da escadaria, eu tento medir a pulsação no pescoço (como tinha assistido na noite anterior num filme de James Bond) e, sem muita certeza, acredito que ela esteja morta. Aqui tenho que abrir um parênteses: quando ela esteve internada no CTI, depois de alguns dias sem melhora, pedi ao médico que me desse um prognóstico sincero.Ele respondeu que, se ela melhorasse a ponto de receber alta, teria outras internações paliativas pois o estado geral era muito frágil.
A partir daquela informação, eu “decidi” que, naquele caso,  seria melhor que ela morresse porque assim terminaria aquele sofrimento para ela e para nós, os filhos. Alguns dias depois foi exatamente o que aconteceu.
Eu, de uma forma completamente irracional, me senti responsável pela morte da minha mãe. Senti, realmente, como se o meu pensamento tivesse o poder de interromper a vida dela e de alguma maneira esse sentimento ainda perdura. Então, quando os médicos chamaram a mim e ao meu irmão naquela sala para dar a notícia de sua morte, meu sentimento ainda hoje é de dizer: “Quem autorizou?!! Eu ainda estava pensando, não era para ela ter morrido, eu ainda não tinha tomado nenhuma decisão”.
Não falei nada disso porque minha mente é racional, mas meu sentimento, muito intenso, foi exatamente esse. Quando eles anunciaram o fato, foi como se eu ainda tivesse a opção de desfazer aquela atitude precipitada que no momento eu atribui a eles, os médicos. Me lembro que meu irmão ficou com cara de abestado e eu perguntei pra ele: “Você entendeu o que eles acabaram de dizer?”. Isso porque os médicos usam eufemismos, não dizem como Albert Camus, em “O Estrangeiro”: “Sua mãe morreu”.
Para mim, naquele momento, a morte da minha mãe era 100% reversível. É como se eu não tivesse ouvido aquela bobagem. Eles que voltassem lá no CTI rapidinho e revertessem o quadro trazendo-a de volta à vida.

Prosseguindo no sonho, agora ela será velada:

O sonho prossegue nesse local do velório. O fato é que deixei o corpo da minha mãe em cima de uma mesa própria para apoiar caixão, numa das salas de velório, sem a menor compostura. Intuitivamente, a morte dela não era definitiva. Não cobri o corpo, não fiz nada. Deixei lá, sozinho, provisoriamente.

Minha impressão, já acordada (posso estar errada), é de que outros enredos se misturaram nesse momento do sonho: uma cantora famosa e madura (não vou citar o nome), que já namorou e casou com rapazes bem mais novos, está nua e quer porque quer transar com um rapazinho lindíssimo. Ela o convence a pegar um veleiro parado numa espécie de marina contígua à entrada da capela do Cemitério São João Baptista, em Botafogo. Ela é super sarada, bronzeada, está com uma garrafa de champagne e avança sem meias palavras pra cima do rapaz que a evita a todo custo. Ela insiste, pergunta se não a deseja, mas ele explica que tem uma namorada a quem ama. Ela tem uma cabeleira leonina, longa e volumosa. Impossível não confundi-la com uma sereia e a ele com Odisseo, porém mais casto e ingênuo. Mas ela não desiste e continua a assedia-lo fisicamente. À certa altura aparece, como uma projeção, uma figura que poderia ser a Fernandinha Gentil, como a namorada do rapaz que se enredou no canto da experiente sereia. Como o namorado, a projeção é atlética, esportiva e dourada pelo Sol. A cantora-sereia também é bronzeada.

* outros trechos do sonho parecem entrecortar essa parte do solitário velório da minha mãe. Na vida “real”, eu também cheguei tarde ao velório dela e encontrei amigos como Ascânio, Armando Strozenberg e João a minha espera. De fato, não fui velar o corpo da minha mãe naquele momento, embora após a morte dela, ainda no CTI, eu tenha cortado suas unhas e hidratado a pele de seu corpo sem vida com óleo de amêndoas perfumado da L’Occitane que nunca mais tive coragem de comprar.

* uma situação no espaço sideral que não consigo me lembrar exatamente, leva a nave ou o equivalente a isso a se desintegrar obrigando o único sobrevivente ou ocupante, não está claro, a voltar à Terra. Ele vem caindo pelo espaço sem nenhum equipamento em direção à Terra. Eu, na posição de espectadora, também estou no espaço mas, como ele, em contato com a Terra. Ele está livre, sem ou com pouco equipamento, e vem de muito além da nossa Via Láctea. Vem de um espaço muito longínquo e profundo. Em determinado momento, seu para-quedas começa a se abrir. O astronauta devia ser uma espécie de repórter-astronauta porque o contato dele na Terra é uma espécie de editor. Deve ser um repórter-sideral.
Em outro ângulo desse enredo, ainda com o corpo da minha mãe em cima de uma mesa sem nenhuma flor ou providência arranjada, surge um editor-chefe (editor de outro editor), me cobrando a matéria do astronauta que desceu de para-quedas para a capa de um jornal de bairros. Eu argumento que minha mãe acabara de morrer e ainda não fora enterrada, mas ele retruca que não quer saber de desculpas. Vai lá reclamar com o editor dos bairros que ele deve ser mais incisivo comigo. Mas aí me lembro que um astronauta caindo de para-quedas não é para o jornal de bairros e ele aceita a argumentação. De repente, mudo de posição e passo a personagem sendo fotografada por Ascânio, que tem um assistente. Pergunto se ele passou de diretor para fotógrafo, mas ele se ofende com a observação. Nisso, vou para uma espécie de barzinho encontrar amigas para descontrair e encontro Saskya e Marina Vianna.
Volto para a capela, que se ampliou para um conjunto. Abre-se um grande salão com porta dupla por onde vão entrando vários caixões cobertos por lençóis. Num deles está Carlos Vereza que ao mesmo tempo está vivo e a quem pergunto o que está acontecendo. Quando ele vai começar a me explicar, volto ao lugar onde o corpo da minha mãe está deitado e noto que ele ainda tem vida. Acordo.